A mulher siro-fenícia, migalhas do pão e seu lugar na mesa

“Vocês dizem: ‘É inútil servir a Deus. O que ganhamos quando obedecemos aos seus preceitos e ficamos nos lamentando diante do Senhor dos Exércitos? 15 Por isso, agora consi­deramos felizes os arrogantes, pois tanto pros­peram os que praticam o mal como escapam ilesos os que desafiam Deus!’ ” Malaquias 3:14

As palavras acima são de uma pessoa que serve a Deus e observa aqueles que não compartilham da mesma fé. E surge a seguinte questão: por que aqueles que não servem a Deus parecem ter mais? Eles talvez tenham adquirido coisas novas, como carros e TVs, ou tenham desfrutado de viagens, o que provoca a inveja de muitos. Em uma visão superficial, parece que a verdadeira recompensa de servir a Deus é associada à riqueza, sem avaliação de caráter.

Já preguei sobre esse tema, e há pessoas que desejam que Deus puna aqueles que não O servem. Alegam que essas pessoas não têm as mesmas obrigações e regras que nós, vivem como bem entendem, e acreditam que Deus deveria puni-las.

“O problema é que muitos acreditam que a única maneira de Deus recompensá-los é com riquezas e honras. Acreditam que o objetivo é esse, grande engano.”

A pergunta que muitos fazem é pertinente: o que ganhamos ao participar de um culto, ao seguir as leis, ao jejuar e orar? Qual é a vantagem? Será que não deveríamos prosperar e ser mais felizes por causa dessas práticas? O problema é que muitos acreditam que a única maneira de Deus “recompensá-los” é com riquezas e honras. Acreditam que o objetivo é esse, grande engano.

Eles veem que continua com problemas, têm boletos para pagar, têm dificuldades, que os filhos continuam brigando, que pode adoecer e não consegue entender as vantagens de servir a Deus.

Eles ignoram a paz, o amor, o crescimento espiritual, a transformação interior, a comunhão, o domínio próprio, a satisfação, a fé fortalecida, a esperança e o relacionamento com Deus. Eles não querem saber do amanhã, seu problema é o hoje. Eles querem ter resultados e não frutos. Eles não conseguem ver o beneficio sobre os filhos e futuras gerações, quer benefícios financeiros imediatos.

Diante disso, para muitos, parece inútil servir a Deus. Para que se tornar membro de uma igreja? Para que contribuir financeiramente? Por que buscar o batismo? Por que ajudar os menos afortunados? Por que se arrepender? Por que jejuar e orar, se não houver recompensas financeiras imediatas?

Depois, aqueles que temiam o Se­nhor conversaram uns com os outros, e o Senhor os ouviu com atenção. Foi escrito um livro como memorial na sua presença acerca dos que temiam o Senhor e honravam o seu nome. Malaquias 3:16-17

O interessante deste texto é que nem todos entendem a devoção a Deus dessa forma. Havia um grupo de pessoas que oravam, jejuavam e falavam bem; eles não julgavam o resultado de sua devoção pelo que tinham, mas permaneciam crentes. Honravam o Senhor e proferiam palavras em Sua glória, a ponto de suas palavras serem registradas. Diz-se que há um livro como memorial, Deus registra as falas daqueles que adoravam a Deus.

Essas pessoas não apresentavam nenhum sinal visível de vitória ou riqueza. Se alguém entrasse em suas casas, tudo pareceria igual a qualquer outra casa, não havia indicadores visíveis dos resultados de sua devoção ao Senhor. Seus filhos eram iguais aos demais, suas casas eram idênticas, mas a devoção deles era registrada em livros perante o Senhor. Eles pagavam contas e se passavam apertos como qualquer pessoa, mas isso não apagava seu orgulho de servir a Deus.

O que acho incrível nesse grupo são duas coisas que adoro pregar: CULTURA E VISÃO. Sua cultura (conjunto de crenças, atitudes e pensamentos) era diferente da dos demais. Não apenas isso, eles tinham VISÃO, estavam semeando para o futuro. A maioria das pessoas vive apenas para o presente, o que as impede de receber as bênçãos do Senhor, pois sempre desejam resultados imediatos. Assim, as sementes nunca germinam, porque raramente as semeiam e, quando o fazem, ficam olhando para a terra, desejando resultados imediatos.

Faltam-lhes VISÃO, a capacidade de pensar no futuro, e uma CULTURA com crenças que moldam seu entendimento do mundo.

No dia em que eu agir”, diz o Se­nhor dos Exércitos, “eles serão o meu tesouro pessoal. Eu terei compaixão deles como um pai tem compaixão do filho que lhe obedece. Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem. Malaquias 3:17-18

Uma vez mais, vamos observar a distinção entre aqueles que dedicam suas vidas a servir a Deus e aqueles que não seguem esse caminho.

É interessante notar como algumas pessoas têm dificuldade em perceber as diferenças entre esses dois grupos, mas a distinção é notável. “Pastor, eu não tenho interesse em me tornar membro da igreja”, diz alguém. Nesse momento, essa pessoa está optando por um caminho que lhe custará muito. “O batismo também não me atrai”, diz outra pessoa. Mais uma vez, essa escolha terá seu preço. E há aqueles que resistem a servir ao Senhor. A consequência disso também não é leve.

Aqueles que escolhem servir ao Senhor se tornam um tesouro pessoal dele e experimentam a compaixão que um pai sente por seu filho. Para os que não optam por servir ao Senhor, essa riqueza de experiências não é vivida da mesma forma.

Então, por que algumas pessoas parecem receber bênçãos mesmo sem se dedicarem ao serviço divino? Parece que existe um terceiro caminho. Vamos entender sobre isso.

Leia a passagem a seguir.

De fato, logo que ouviu falar dele, certa mulher, cuja filha estava com um espírito imundo, veio e lançou-se aos seus pés. A mulher era grega, siro-fenícia de origem, e rogava a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. Ele lhe disse: “Deixe que primeiro os filhos comam até se fartar; pois não é correto tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. Ela respondeu: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças”. Então ele lhe disse: “Por causa desta resposta, você pode ir; o demônio já saiu da sua filha”. Ela foi para casa e encontrou sua filha deitada na cama, e o demônio já a tinha deixado.  Marcos 7:25-30

Neste relato, encontramos uma mulher de origem grega, especificamente siro-fenícia, ou seja, de uma origem não judaica. À primeira vista, parecia improvável que Jesus a atendesse, independentemente de seu desejo de segui-lo. Ela buscava um milagre para sua filha, que estava possuída por um espírito maligno, e embora tenha procurado soluções junto aos deuses de sua cultura, não obteve sucesso.

As palavras de Jesus foram diretas e desafiadoras: “Eu vim para alimentar os filhos até que estejam satisfeitos; não é certo tirar o pão dos filhos e dá-lo aos cachorrinhos.” Essa passagem tem várias camadas de significado. Primeiro, ele enfatiza que os “filhos” na mesa do Pai desfrutam de abundância. Em segundo lugar, ele compara aqueles que não fazem parte desse grupo a “cachorrinhos” que podem receber apenas migalhas. Por fim, ele usa essa analogia ao se referir a essa mulher.

“O convite que Jesus nos faz é para ser parte da família, para nos sentarmos à mesa e nos alimentarmos até estarmos satisfeitos, em vez de aceitar apenas migalhas.

Para muitos, essa declaração de Jesus teria sido o fim de qualquer conversa. Se um pastor proferisse tais palavras a algumas pessoas, elas poderiam facilmente se sentir ofendidas e afastadas da fé. Isso nos leva a três grupos distintos: o primeiro grupo rejeita a igreja e qualquer regra dela; o segundo, não sendo “filhos”, contenta-se com as migalhas; e o terceiro grupo é formado por aqueles que verdadeiramente são “filhos”. O convite que Jesus nos faz é para ser parte da família, para nos sentarmos à mesa e nos alimentarmos até estarmos satisfeitos, em vez de aceitar apenas migalhas.

Entretanto, naquele momento, a recomendação de Jesus era que a mulher não podia ser considerada como parte da família, devido à missão que ele estava cumprindo. Hoje, as coisas são diferentes, e todos têm a oportunidade de serem chamados de filhos. Ela, naquele tempo, não poderia ser filha e nem sentar na mesa de Deus. Agora, após o sacrifício de Cristo, todos tem essa oportunidade. Chega de migalhas, agora podemos nos fartar.

Todos os domingos, as igrejas entregam um banquete celestial. Agora existe fartura para todos aqueles que desejam ser filhos de Deus.

No entanto, é notável que, mesmo com essa oportunidade à disposição, muitos optam por permanecer à margem, aceitando apenas as bênçãos que caem como migalhas da mesa. É importante lembrar que há um lugar para todos à mesa, onde todos podem se saciar. Contudo, alguns preferem permanecer escondidos debaixo da mesa, evitando os compromissos e o reconhecimento que vêm com o título de filho.

Sem reconhecimento, sem título, sem herança.

Ao fazê-lo, buscam o anonimato e as bênçãos sem questionamentos. No entanto, essa escolha pode custar caro, pois ser filho é ser tesouro pessoal do pai, é receber o amor incondicional dele. Portanto, não devemos julgar aqueles que servem a Deus com base em seus recursos materiais. A verdadeira diferença não está na riqueza, poder, influência ou na ausência de problemas, mas sim no selo que carregamos em nossas testas.

Quem está debaixo da mesa não tem identidade de filho. Sentar na mesa fala de reconhecimento, proposito e responsabilidades. Somente quem aceita servir a Deus é reconhecido como filho verdadeiramente.

Assim, não deixe para depois a busca pelo seu propósito e serviço. Se você se pergunta o que fazer, a resposta pode estar em encontrar o seu ministério e servir. Aqueles que desejam apenas ouvir os cultos e receber bênçãos podem fazê-lo, pois as bênçãos estão disponíveis para todos. No entanto, é importante lembrar que, ao escolher apenas as migalhas, não poderão ser chamados de filhos e não terão um lugar garantido entre aqueles que serão salvos.

E mesmo assim ainda perguntam: ‘De que maneira te desonramos?’ Ao dizerem que a mesa do Senhor é desprezível”. Malaquias 1:7

 

Pr. Moisés Nogueira de Faria

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